Entrevista: Corrupiola



Baseados em São José, a 7 km de Florianópolis, Leila Lampe e Aleph Ozuas deram origem a um projeto interessante de design feito à mão: o Corrupiola. Os crafiteiros – não, eu não troquei a primeira letra da palavra. Saiba mais sobre o movimento Craft aqui – uniram a sua experiência trabalhando como designers freelancer com a afinidade por papelaria e trabalhos manuais. Os primeiros protótipos do Corrupio, que é como chamam seus produtos, foram experimentalmente criados no início de 2008. O caderno foi gradativamente aperfeiçoado e após vários testes com papéis nas capas e miolos, o modelo ideal foi alcançado. Em dezembro de 2008, lançaram a sua primeira coleção num Bazar craft na capital catarinense.

Conheça melhor o processo de criação dessa dupla que acredita que os produtos artesanais proporcionam uma experiência sensorial mais ampla do que a oferecida por algo “enlatado” e industrializado.



O que inspira vocês? Por favor, contem um pouco como é o processo de criação desde as primeiras ideias até o produto final.
Nossa inspiração vem de muitos lugares: da literatura e do cinema; de um passeio pela praia ou pelo campo; do trabalho de outros crafters e das centenas de belos sites que visitamos periodicamente; do canto dos pássaros e do som da nossa máquina tipográfica funcionando. Utilizamos um quadro para anotar nossos projetos, mas não somos tão metódicos no momento da criação. Não costumamos fazer sessões de brainstorming e as ideias para novos produtos podem surgir em uma conversa ou até mesmo por acidente. Do conceito inicial ao produto final, há algumas etapas que passam pela escolha de materiais; pesquisa de fornecedores; desenvolvimento do protótipo; adequação de formato até o desenvolvimento da embalagem.

Como funciona a dupla? Vocês dividem o trabalho ou ambos desempenham as mesmas funções? Como lidam quando tem exatamente a mesma ideia? Acontece uma “briga” para saber quem fará o que? E quando divergem?
Cada um de nós acabou se especializando em algumas etapas do processo de confecção dos Corrupios, no entanto o momento de criação é compartilhado e debatido quase diariamente. Como estamos muito sintonizados no trabalho, não é incomum termos a mesma ideia. Gostamos dessas coincidências e também conseguimos chegar a resultados positivos mesmo nos momentos de atrito, quando temos idéias díspares que devem ser adequadas em um resultado que combine vantagens de cada um. Quando os dois batem o pé, as divergências são sanadas através de testes e experimentações.




Numa época em que a tecnologia é cada vez mais presente e mutante – no sentido mais dinâmico da palavra – a que vocês atribuem o interesse por produtos de caráter mais artesanal?
O contato com produtos artesanais proporciona uma experiência sensorial mais ampla do que a oferecida por produtos massificados. A relação direta com o vendedor e a história dos produtos são fatores indispensáveis quando você adquire uma peça handmade. O consumidor deste tipo de produto quer saber quem o fez; quais os cuidados que toma para diminuir o impacto no meio ambiente; no que acredita. Longe de se engajar em modismos passageiros, quem participa ativamente da “nação handmade” sabe diferenciar um produto despersonalizado de uma peça feita à mão, individualmente, sem explorar o meio ambiente ou outro indivíduo.

A prática do feito à mão, do produto desenvolvido quase sob medida, há algum tempo, vem ganhando força. Também é notório que os meios de comunicação buscam estratégias cada vez mais personalizadas para chegar ao público. Vocês acreditam que há uma influência entre tais aspectos?
O consumo acelerado do passado obrigou as grandes marcas a automatizar cada vez mais os processos para aumentar a produção. Até o atendimento humano passou a ser algo mais mecânico dentro da idéia do “tempo é dinheiro”. Durante algum tempo isso funcionou e aqueles que buscavam um atendimento mais humano e personalizado tinham poucas escolhas. O movimento craft está em sintonia com a crescente valorização do indivíduo em detrimento ao consumo massificado. Todos nós queremos atenção e respeito às nossas particularidades e estamos cada vez mais cientes do nosso poder e valor dentro de um sistema consumista. Esta exigência por um atendimento mais particular atinge todas as esferas, inclusive os meios de comunicação. O público sabe que pode ser mais do que um número em uma planilha e está gradativamente mostrando quem é que dita as regras no mercado.



Serviço Corrupiola:
Acesse o site.
Conheça o flickr.
Em BH, você pode encontrar os Corrupios na Quina Galeria.

4 comentários:

Anônimo disse...

Meninos, adorei a entrevista e os materiais do pessoal da Corrupiola. Fiquei curiosa: qual é a origem do nome deles hein? Bjos e parabéns!
@vivian_teixeira

Renato Loose disse...

Oi, Vivian.
Ótimo receber um retorno positivo de uma jornalista.
:)

Bom, o nome Corrupiola é um neologismo criado pelo Aleph a partir da palavra Corrupio, que quer dizer brincadeira. Daí, Corrupiola pode ser fazer brincadeiras, se divertir... aqui ele conta melhor http://corrupiola.com.br/about

Beijos

tio .faso disse...

Opa! Sou fã, proprietário e amigos (à distância, mas resolveremos isso logo) dos povo da Corrupiola. Ótima entrevista!

Eu como mais um integrante do movimento craft (quem cunhou o termo foi as meninas do Superziper - http://www.superziper.com) acredito que o retorno dos trabalhos manuais, aliando tecnologia com técnicas antigas, não é modismo (a não ser quando tentam aplicar isso a produtos que não são verdadeiramente feitos a mão), mas sim um conseqüência da desumanização do mundo.

A maior certeza que podemos ter quando algo é feito a mão é que aquilo foi feito por alguém que AMA o que faz.

Um super abraço,

tio .faso - bonequeiro e crafter

Mi Müller disse...

Eu sou fã da Corrupiola, não tem satisfação maior do que comprar um produto que não é apenas para ser usado, mas que reflita todo um conjunto de ideais que unem os artistas que o criaram ao consumidor. Isso sem falar no atendimento primoroso que Leila + Aleph dispensam a cada pessoa que adquire um corrupio, nós consumidores nos sentimos parte de algo especial e não um número nas estatíscas de venda.
A entrevista está perfeita, perguntas ótimas que trazem a tona o que a corrupiola tem de melhor, as pessoas que a fazem ser tão especial.
estrelinhas coloridas...

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