Entrevista: Allan Szacher, Zupi
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Allan e sua revista
Entre a série de eventos promovidos pela Quina Galeria durante a ótima Quina do Design, foi realizada a palestra com Allan Szacher, idealizador de uma das maiores referências em arte gráfica no Brasil: a revista Zupi. O nome vem da junção ortográfica e semântica das palavras Zap – mudança; Zip – rapidez; e “Iupi”, onomatopeia de felicidade típica dos quadrinhos.
Pela primeira vez em BH, ele mostrou um pouco do seu trabalho pessoal e falou sobre a trajetória de seus projetos, que também incluem o Pixel Show, conferência internacional e feira de arte capaz de reunir mais de seis mil pessoal num único final de semana, e a revista Voxel, publicação semestral voltada à arquitetura.
Antes da palestra, pude entrevistá-lo e durante a conversa, falamos sobre a produção de conteúdo colaborativo, novas parcerias, artistas mineiros e a importância de ferramentas online para um projeto que contabiliza 200 mil visitas mensais. E Allan quer mais: chegar aos 300 mil acessos vindos apenas do Brasil.
Em que momento percebeu que estava diante de um projeto de alcance global?
Desde o começo queria dar forma a algo participativo. No início, era um projeto pessoal em que contava com a ajuda de uma amiga jornalista para fazer entrevistas com os artistas. Minha ideia era criar um local para mostrar trabalhos autorais, sem interferência de chefes ou de clientes. Além disso, também queria mostrar o melhor da arte contemporânea no Brasil e no mundo.
Quando o projeto completou três meses, fui morar na Austrália, mas de lá, continuei o trabalho, que foi dando certo. Sem a pretensão de ser uma grande corporação, fomos ganhando projeção na divulgação de boca em boca.
O estúdio Zupi Design havia surgido em 2001 e o portal, em 2002. Meu tempo foi ficando escasso e, como eu precisava pagar as minhas contas, pensei em produzir um livro. Selecionei mais de 100 trabalhos do mundo inteiro com a ajuda de um corpo de jurados bem bacana incluindo Cássio Leitão, Gustavo Piqueira e Rico Lins. Porém, o patrocinador furou na última hora e tive que segurar o projeto, pois bancá-lo integralmente sairia muito caro. Procurei me informar, fui atrás de cursos para aprender um pouco sobre administração e concluí que deveria criar um outro produto para arcar com os custos. A solução que encontrei foi montar um evento, e então, surgiu o primeiro Pixel Show, que deu muito certo! A grana conquistada bancou a primeira edição do impresso e podemos investir em uma boa gramatura, lombada quadrada, etc. Projetos que mostrem trabalhos de qualidade também precisam de ser feitos com materiais de qualidade, do papel à impressão.
Inspiração em dose dupla: Zupi e James Jirat. Recorte da edição com a qual fui presenteado durante a entrevista
Há algum tempo, o site da Zupi passou por uma reformulação e se tornou mais interativo. Na revista impressa, um dos grandes pontos de participação do público é a seção para envio de trabalhos. Como você pensa o futuro dessa relação? É possível adaptar algumas estratégias do virtual para o físico, a fim de tornar a publicação em papel ainda mais participativa?
Estamos trabalhando as matérias da revista ligadas ao site. Todas possuem conteúdos extra, que terão um link do tipo “para saber mais, assine a revista”. No impresso também haverá chamadas que direcionem a curiosidade do leitor para o site da Zupi.
O Twitter tem sido uma ótima ferramenta. Conversando com os leitores, estamos promovendo a participação por esse canal. Toda semana há o “Top 50”, que é uma coletânea, sempre temática, de trabalhos. Como tem funcionado muito bem, a ideia é fazer seleções por meio do Twitter. Estamos pensando em criar na revista uma galeria especial para a divulgação dos melhores trabalhos que encontrarmos.
Você lida com ilustradores, designers e artistas de várias partes do mundo. Hoje temos uma troca de informação muito grande entre diversos lugares por meio da internet. Você acha que isso proporciona uma "padronização visual" ou ressalta ainda mais as características regionais nos trabalhos? Falando em escala local, o que conhece na produção de design em Minas?
Não creio que exista estilo local. Recebo trabalho de japonês que você pode achar que foi feito por um norte-americano. Existe hoje uma mistura muito grande de traços e culturas. Não só por causa da internet. Muitos artistas têm bagagens culturais imensas devido às viagens e exposições de seus trabalhos em galerias de outras cidades. Isso proporciona uma diversificação no repertório que está gravado em sua memória. Estimula o uso de novas técnicas, novos estilos e então, tudo vai se transformando. Isso é arte contemporânea! É toda a fusão do que estudamos desde a idade da pedra até hoje. Os artistas tem se aprimorado no que já foi feito, além de utilizarem técnicas mais recentes como spray, tinta acrílica, estêncil, etc. Muitos têm sido influenciados por grafismos típicos da arte de rua. Vejo que hoje, aqueles que ainda mantêm um estilo muito fixo, são pessoas com um pouco mais de idade, de uma outra geração.
Sobre a produção em Minas, conheço algumas pessoas. Entre elas está Raul Teodoro, Mustaxd, com quem falo há um tempo. Ele, inclusive, já foi convidado para uma exposição que fizemos na Holanda, em 2009. Também há o Eduardo Recife, que conheci antes da revista ser impressa, por meio de um site semelhante ao da Zupi, quando morava na Austrália. Por último, e mais curioso, o Gabriel Fan. Ele tatuou a marca da Zupi em seu braço. Quando vi, achei que era algum tipo de manipulação de imagem, mas estava muito realista para ser apenas uma brincadeira. Ficamos tão impressionados que criamos um anúncio, divulgado em algumas edições. O texto dizia que havíamos conhecido o nosso fã número um.
Os avanços tecnológicos como facilitadores na publicação de conteúdo popularizaram o surgimento de revistas online. A Zupi possui um canal no Issuu, porém com edições antigas da revista. Existe a possibilidade de uma versão digital atualizada e paralela à impressa?
O Issuu existe apenas com a intenção de conseguir contatos fora do Brasil. E uma novidade é que, em breve, nossos projetos serão vendidos na loja da Apple, para iPad e iPhone. A intenção é que seja um e-book. Estamos estudando uma forma de fazer os arquivos ficarem mais leves sem perder tanto em resolução. Temos que ter esse cuidado pois uma grande quantidade de imagens aumenta consideravelmente o tamanho em megabytes. A revista não deve ocupar tanta memória nos aparelhos. Também estamos pensando em disponibilizar versões em PDF para compra. Se tudo der certo, faremos com que a versão digital seja divulgada simultaneamente com a impressa.
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4 comentários:
Ei, Renato!
Tô gradando demais das pautas!
Produção de conteúdo e não mero ctrl+c-ctrl+v e o mais do mesmo que, infelizmente, predomina na maioria dos blogs.
Esta entrevista, por exemplo, cobertura oportuna e sem ôba-ôba.
Parabéns!
Beijos,
Débora
Débora, que bom que está gostando. Penso de maneira semelhante. Se as plataformas de blog estivessem sendo usadas de um jeito um pouco diferente, teríamos mais qualidade e diversidade de pontos de vista e menos status superficiais.
Por aqui, temos nos esforçado para não cair no "mais um". Opiniões como a sua nos leva a crer que temos acertado o caminho.
:)
beijo
Otima entrevista
Obrigado, Carol!
Ótimo o seu retorno.
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